True Detective - Night Country. (S4)
Se tem uma série que eu gosto MUITO, é True Detective, HBO sempre foi uma boa casa para séries bem feitas, com enredos complexos e personagens nem um pouco heroicos, e True Detective não seria exceção.
Para quem não está familiarizado, True Detective é uma série antológica, ou seja, cada temporada possui seu próprio enredo, com seu próprio núcleo de personagens e atores de grande peso, quando anunciada a quarta temporada, já fiquei feliz, pois além de ser uma das minhas mini-series favoritas, ainda trouxe a monstruosa Jodie Foster, em um papel altamente detestável e trouxe um cenário que eu gosto muito, uma cidade pequena do Alaska, que em sua alta temporada de inverno, possui dias e dias sem ver a luz do sol, ambiente propício para loucuras que a linha True Detective nos aponta. Para quem nunca assistiu (em especial a primeira temporada) pode receber um estranhamento de imediato, pois a série transita entre o sobrenatural e o crime real, e como todas as temporadas da série, tudo só é explicado no ultimo episódio e essa explicação vai depender mais da carga cultural de quem assiste, do que propriamente o que foi dito.
Então é possível entender porque em termos de narrativa é uma das minhas séries favoritas, eu gosto de tudo aquilo que não é mastigado nem explicativo da forma como éramos acostumados, e ter a abertura do debate do que é o significado final pra cada expectador é algo muito legal e muito bem feito.
Mas afinal, do que se trata Night Country?
Jodie Foster interpreta a Chefe do condado Liz Denvers, que como padrão série HBO, é uma mulher detestável, egoísta, irritada, descuidada com suas relações interpessoais, trata seus subordinados muito mal, exige muito dos mesmos, sua relação com sua enteada não é das melhores, e acima de tudo é uma pessoa que fecha os olhos para muito do que está acontecendo na cidade.
Night Country começa com a morte de todos os pesquisadores, de um centro de pesquisa muito misterioso, ao qual ninguém sabe dizer exatamente o que eles estavam pesquisando. Com uma introdução bizarra, vemos os pesquisadores caminhando nu em direção a neve sem fim, até morrerem congelados, agarrados uns aos outros, quando chega ao local do crime para a primeira avaliação, Liz tem uma pista bem incomum, uma língua cortada, e que não pertencia a nenhum dos pesquisadores, e sim a uma mulher indígena que foi morta anos antes, Liz nega a conexão entre os casos, visto que foi obrigada a largar o caso do assassinato de Annie K por forças maiores.
Em sua contraparte, temos Kali Reis interpretando Evangeline Navarro, uma policial indígena, mas que perdeu o contato com sua origem, devido a infância em outra cidade, com um pai abusivo, uma mãe com indícios de esquizofrenia (nunca fica claro o diagnostico) e agora a irmã apresentando os mesmos sintomas, vemos em Evangeline uma mulher distante, porém com grande senso de justiça, sendo a única que se dedicou ao caso de Annie K e agora inferniza sua ex parceira Liz Denvers (cujo rompimento não entendemos de imediato) a retomar as investigações.
Para completar o corpo policial, temos Finn Bennet, como Peter Prior, o faz-tudo de Denvers que enxerga na chefe um carinho além do trabalho, que alguns podem interpretar como pena também, seu pai Hank também trabalha na delegacia e ambos apresentam alguns atritos dado essa idolatria do filho que aceita qualquer ordem da chefe.
Para complemento do cenário, além das inúmeras noites sem fim, a cidade ainda enfrenta com algo que acho mais do que importantes as mídias estarem trazendo mesmo que seja na ficção, para lembrarmos do que ainda acontece ao nosso redor: a cidade vive em torno de uma mineradora, que gerou inúmeros empregos aos brancos que moram na cidade, famílias inteiras sendo sustentadas pelo trabalho que vem envenenando os povos indígenas, gerando uma onda de protestos e uma mini guerra entre os dois lados da população. A enteada de Liz é indígena e começa a entender que é a sua origem que está morrendo, e exige mais postura da parte de Liz que tenta se manter imparcial visto que não afeta ela diretamente. Assim como Navarro que é indígena, sabe que o que está acontecendo é errado, mas não está conseguindo se alinhar com sua moral.
Então temos em 6 episódios e 15 dias/noites sem fim: um crime cruel, inúmeros mortos, um caso arquivado ligado ao crime cruel, um povo adoecendo e morrendo, uma cultura sendo dizimada, e duas mulheres com seus fantasmas do passado para lidar.
O post demorou um pouco pois eu fiz questão de assistir a temporada inteira antes de dar meu parecer, essa temática me lembra muito um dos meus RPG favorito, Lobisomem o Apocalipse, visto que a tribo de Wendigo é muito ligada a região onde a história acontece, e como dito antes, fica tudo muito dúbio se o que estamos vendo está ligado ao sobrenatural, ou apenas algo bem humano, até porque temos uma personagem fantástica que vê fantasmas e serve como um guia para Navarro que ainda está buscando se entender, entender sua irmã e o que aconteceu com sua família.
Como a série saiu um episódio por semana, foi muito legal ver as discussões na internet sobre o que diachos estava acontecendo, e a interpretação variava muito entre cada um que dava sua opinião. Porém, agora que finalizada, realmente é uma série maravilhosa para se maratonar em um fim de semana, pois temos muito subplots, Prior e sua família, a enteada de Liz, o povo indígena, os pesquisadores, a dona da mineradora e seu ódio específico à Liz, que algo pode cair no esquecimento quando esperamos o próximo episódio na semana seguinte.
Todo o elenco foi fenomenal, além de Jodie Foster, Fiona Shawn e Christopher Eccleston, não vi rostos muito conhecidos, o que eu acho fantástico, pois temos atores indígenas atuando para falar de algo que os afeta há muitos anos e muitos fingem não ver. A sinergia entre os personagens é ótima, você sente nojo, raiva e pena de todos os personagens e as cartas mudam o tempo todo.
Fica então a dica, disponível em MAX. (antiga HBO Max).