Tanuki Indica: Samurai de Olhos Azuis

TanukiIndica: Samurai De Olhos Azuis

{Imagem Reprodução}

Dessa vez vou precisar agir um pouco diferente, pois tenho MUITO o que falar sobre essa obra que chegou de surpresa no catálogo e cativou muito além da minha atenção.

Dividiremos esse conteúdo em duas etapas: sem spoilers, para realmente ser uma indicação, e uma parte com spoilers, pois é impossível falar sobre essa obra sem entregar o spoiler principal. Então fique atento a marcação de DIVISÃO DO TEXTO para não ser pego de surpresa.

Samurai de Olhos Azuis (Blue Eye Samurai) é uma obra escrita e produzida nos França e Estados Unidos, por Michael Green e Amber Noizumi, que traz uma história em um Japão feudal fictício, mas que traz a tona realidades muito mais próximas do que imaginamos. 

Seguimos o samurai sem vínculo com senhor algum, chamado Mizu, que nasceu de olhos azuis, fruto de uma miscigenação de imigrantes e sua mãe japonesa, sofrendo com o preconceito e bullying desde a infância, Mizu promete a si uma vingança contra o homem que lhe deu esses olhos azuis, ao qual é considerado uma maldição. 

Para nós aqui no Brasil, que somos uma raça feita de mistura de diversos povos, às vezes pode ser um pouco difícil compreender a questão da bi-racialidade, que a autora Amber Noizumi, também mestiça sofre ainda em países como o EUA, e devemos também considerar todo o contexto histórico da obra, mesmo tendo um Xogum fictício, a obra ainda traz à tona como era a visão dos japoneses com relação aos colonizadores, sim, colonizadores, pois a obra deixa bem claro como o Japão sempre foi uma ilha fechada em seu próprio povo, e a abertura das portas para o comércio estrangeiro, era visto como uma ameaça aos fins dos costumes. Mas, a grande pegada da história, é que Samurai de Olhos Azuis vai muito além do contexto histórico e da bi-racialidade do personagem principal, é uma história que está além do seu tempo e que afeta muitos de nós diariamente.

A animação é linda, é bem possível ver pelos traços dos personagens que não é uma obra padrão oriental, trabalha com jogo de cores incríveis, especialmente no que apresenta a cor azul, e traz além de Mizu, personagens que, mesmo com pouco tempo de tela, conseguem ser muito profundos e alguns muito carismáticos.

Infelizmente não posso falar sobre o cast nesse momento, pois falar sobre o cast é entregar spoilers, então recomendo fortemente a assistir o primeiro episódio completo, antes de procurar quem são os dubladores dos personagens, e sim, foram excelente escolhas, desde ídolos eternos de Hollywood, até aqueles que tiveram poucas participações como coadjuvantes em séries infantis, mas o mais importante, que sim, em sua maioria são de descendência oriental. 

Então podemos considerar sim que a obra é uma homenagem ao passado da autora, dos participantes da produção e suas origens familiares. 

Tendo 8 episódios que variam de 40 minutos à 1 hora, a história segue um ritmo frenético, que te impede de parar no meio do episódio, pois são tantas subtramas, que você precisa ficar ligado para não deixar passar uma pequena fagulha, que poderá respingar em alguns episódios a frente. Além disso, a obra não mede esforços em demonstrar a violência em seu estado natural, tendo momentos bem tristes. A obra em alguns momentos me lembrou Samurai Champloo (anime favorito de quem vos fala) dado a condição histórica do cenário e a influência dos brancos para o fim da era Edo.

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PARTE COM SPOILERS

Bom, você chegou até aqui, quer seguir? É por sua conta e risco, vou precisar abordar alguns tópicos que são explicados somente na ultima cena do primeiro episódio. Se você não gosta de spoilers, SAIA IMEDIATAMENTE.

Você tem certeza?

Pois bem, com a dublagem fica tudo bem explicito, mas a forma como a história é abordada fica muito bacana a cena final. Mizu além de trazer todo o sofrimento da sua miscigenação, traz um outro problema de cunho muito maior, dado a época do ano, Mizu é uma mulher. Já marcada para morrer desde seu nascimento, sua mãe a ensinou que precisava ocultar seu gênero desde cedo, pois ela era procurada pelo simples fato de ter nascido. O machismo não é uma exclusividade da personagem principal pois ele é muito mais abordado no plot que envolve a Princesa Akemi, que queria apenas ser dona do seu próprio destino, e não um peão no xadrez da família real, e entre outras diversas personagens, em sua maioria prostitutas. A obra não mede esforços para mostrar a objetificação do corpo da mulher, sua falta de serventia quando não é de família nobre, e sua falta de escolhas quando você é nobre.

Inclusive Mizu passa a ver esse outro lado da moeda de perto, quando passa a lidar com as histórias dessas personagens, visto que Mizu, por ocultar sua identidade como mulher, não passa por essas mesmas questões. 

Inclusive quero deixar aqui o excelente episódio que relata o passado de Mizu com o ponto crucial de sua mudança em paralelo com um teatro tradicional da época, que conta a lenda de como surge um espirito Onryo, que tem tudo a ver com o tipo de ser sedento de vingança que Mizu está se tornando.

Além disso a obra traz dois personagens extremamente cativantes, Ringo, interpretado por Masi Oka (Heroes), que é um rapaz que nasceu com uma deficiência nas mãos, e mesmo assim entrega tudo o que pode com suas habilidades e busca em meio ao mundo de homens cheios de honra, se destacar, e o maravilhoso Seki, interpretado pelo único George Takei, que traz por si o famoso “pai é quem cria” sendo o responsável pela criação de Akemi e desconstrução de si para entender a menina que tanto ama como seu próprio sangue.

A série foi renovada para segunda temporada, confesso que não me agradou muito a forma como o cliffhanger foi determinado para a criação da segunda temporada, mas irei assistir de qualquer forma.

 

E aí? Assistiu a série já?

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