Tanuki Indica – Late Night With The Devil

Sem título em português, pois também não têm previsão de lançamento no brasil, Late Night With The Devil foi uma surpresa absurdamente agradável para os amantes de filmes de terror.

Contextualizando o título, Late Night são programas de Talk Show noturnos, que geralmente ocorrem das 22h até 00h, ou mais tarde, aqui no Brasil nossa maior referência é o Jô Soares, e agora o Danilo Gentilli e Tata Werneck que fizeram versões atualizadas. Entendendo agora o que é um Late Night, partimos para uma aventura noturna em um grande metatexto (um texto dentro de um texto, calma que eu explico), o filme começa dando a entender ser um found footage (filmes onde localizamos uma fita perdida sobre algo misterioso que ocorreu, como Bruxa De Blair, Atividade Paranormal e REC), mas não partimos totalmente da ideia de que veremos uma câmera tremida e uma imagem em baixa qualidade, o filme inicia seu primeiro texto como um documentário sobre o apresentador e a fita perdida do ultimo episódio do talk show “Late Night With Jack Delroy”, sendo Jack, nosso carismático apresentador interpretado pelo magnífico David Dastmalchian que finalmente ganhou seu protagonismo após anos na indústria.

Jack Delroy teve altos e baixos na vida, especialmente a vida pessoal, porém sempre a sombra de seu rival televisivo Johnny Carson (esse sim é uma pessoa real, o apresentador de Late Night mais famoso que já existiu nos EUA até hoje), então o início do “documentário” nos dá as pistas de que Jack estava mesmo disposto a fazer de tudo para conseguir tirar a coroa de seu rival.

Após um período fora da TV, Jack retorna triunfante para o melhor Halloween que já existiu, e assim, temos um novo texto (isso é o metatexto), onde passamos a assistir não só o Talk Show por completo, como também o backstage, que ocorre entre os comerciais (sim, temos tela de comercial, além da mudança da coloração da câmera), entre murmurinhos e intenções misteriosas da produção, temos as grandes entrevistas da noite: Christou (Fayssal Bazzi), um médium que relata se comunicar com os mortos no maior estilo Walter Mercado/O Astro, Charmicael Hunter (Ian Bliss), um ex-mágico, revoltado com as ilusões que criou, agora dedica sua vida a ser um desmistificador de charlatões, June Ross-Michel e Lilly (Laura Gordon e Ingrid Torelli), sendo June uma parapsicóloga que está lançando um livro sobre seu estudo de caso Lilly, uma garota que sobreviveu a uma seita satânica. O que poderia dar errado na união de tantas mentes diferentes, opiniões opostas e pessoas atormentadas pelos seus próprios medos?

Além do texto dentro do texto cativante, pelo menos pra mim, pois sempre foi minha matéria favorita na faculdade, eu gostei muito da estética ao qual o filme foi feito, entre todos os pedaços documentais, vemos referências ao Satanic Panic, movimento que ocorreu nos EUA na década de 70, precisamente após o caso em Amityville, onde a mídia e a igreja passaram a culpar quase tudo o que ocorria no mundo como possessão. O filme cai como uma luva em meio a toda essa enxurrada de filme sobre o Casal Warren, que foram nomes muito fortes durante o Satanic Panic, e também é impossível não lembrar de June e Lilly com o caso de Annelise Mitchell (jovem que inspirou Emily Rose), ao qual foi tratada pela igreja como possessão, e até hoje gera debates sobre a influência da falta de apoio psiquiátrico que Annelise talvez precisasse.