Tanuki Indica – As Aventuras de José e Durval

José e Durval? E que tal se chamarmos de Chitãozinho e Xororó? Agora sim né.

Uma história em atos.

TEXTO CONTÉM SPOILERS, mas nem tanto, afinal é biográfico.

 

Tanuki Indica dessa semana é uma produção nacional (uhu!!) lançada já tem um tempinho, comecei a assistir oficialmente quando saiu com a minha avó que é uma grande fã da dupla, mas devido a problemas técnicos com o som da nossa TV, acabamos atrasando o ultimo episódio, afinal com o som da TV com problema, nem valeria a pena acompanhar o ultimo episódio.

Em algum momento de 2022, a Globo lançou um documentário sobre a dupla Chitãozinho e Xororó, que levou Pedro Bial a dar uma tour por uma das fazendas onde os meninos cresceram, e trocaram alguns momentos musicais, no aniversário de 50 anos de carreira da dupla, claro que assistimos sem nem pensar duas vezes, esse documentário foi um trabalho muito carinhoso com a dupla, a produção foi atrás de vários materiais da época, como recortes de jornal, os ingressos do grandioso show do Palace, fotos de família, que fizeram com que eles fossem contando o passo a passo da carreira.

Tal qual meu review de Griselda (aqui no site mesmo), As Aventuras de José e Durval também tomaram uma grande dose de licença poética, para contar a trajetória dessa dupla em seus diversos momentos da vida, muita coisa bem romantizada perto do que foi dito nesse Especial com o Bial.

Mas vamos focar nos objetivos, te indicar o porquê você deve ver As Aventuras De José e Durval.

Os primeiros capítulos vão trazer a história da família e o contato dos garotos com a musica caipira, dentro da obra não temos a localização geográfica exata de onde é esse interior, a primeira cena da série já é de cortar o coração, que não é tão spoiler assim, vemos o funeral da irmãzinha bebê dos meninos, e eles sem entender o que é o conceito da morte, e preciso falar muito sobre isso pois a série trouxe uma atuação muito linda de Andréia Horta no papel da Dona Araci, a mãe dos garotos e apaixonada por musica, com a perda da criança, Dona Araci não soube lidar e seus problemas de saúde psicológicas foram piorando com o passar dos anos, o tato com que a série trabalhou isso foi muito bacana, pois era uma época que não se falava sobre saúde mental, e os músicos, quando mais velhos, procuram uma ajuda apropriada para sua mãe, quebrando todos os tabus.

Mas precisamos falar sobre a dupla de Pedros (Pedro Tiroli e Pedro Lucas) que interpretam os irmãos quando crianças, eles dão um ar de fofura e sapecagem que é impossível não lembrar de um irmãozinho, ou um priminho que só pentelhava naquela idade. 

Apesar de pentelhos como qualquer criança ativa, desde muito cedo desenvolveram o senso de responsabilidade, pois além da mãe doente, o pai era alcoólatra e especialista em trair a esposa, escrevendo muitas canções de amor em um caderno que futuramente viria servir de inspiração para os meninos.

Acompanhamos além da infância difícil, a dupla sozinha ainda criança embarcando na Caravana do Geraldo Meirelles, que carregava músicos de diversos gêneros musicais de cidade em cidade para performar, Chitãozinho e Xororó nunca foi uma dupla de somente sertanejo e sim uma mistura de vários gêneros que essa jornada desde criança influenciou demais (hey, Galopeira é Mariachi sabia?)

 

Com o primeiro dinheirinho em mãos, os meninos voltam para casa percebendo que aquela era só uma das inumeras jornadas que virão, destaco também a participação de Inezita Barroso na série que foi um grande pé-no-saco, mas eu assisti muito o programa dela na TV Cultura com meu bisavô, então só deixou o coração quentinho com a saudade.

Como diria minha avó “eles não são de matar com a unha”, e acho que essa é a descrição perfeita sobre como José e Durval conseguiram crescer tanto no meio musical, quebrando todos os estereótipos caipiras presentes em todas as outras duplas, foram os precursores que abriram as portas para todos os artistas que vieram a seguir num público mais urbano. Crescidos, a dupla é interpretada pelos irmãos Felipe e Rodrigo Simas, e não vou negar que eu tive uma baita dificuldade nos primeiros momentos de transição para saber quem era o José e quem era o Durval, mas eles foram muito divertidos, a série trouxe muito ar de comédia sessão da tarde, sem perder o tato biográfico, se atentando apenas aos fatos que importavam na narrativa, a diferença de personalidade entre cada um deles (um, um querido casado até hoje com a mesma esposa, pai de filhos que fizeram a minha geração valer a pena oiii Sandy, oiii Junior, fui grande fã, tá?) e o outro mais desapegado, com amantes etcs (desculpe leitor meu desprezo por esse irmão que virou cidadão de bem, se é que você me entende e deu vexame um pouco depois do Especial com Bial ir ao ar).

E como toda obra baseada em pessoas da musica, vemos problemas com gravadoras, empresários, o padrão de todo artista mas que felizmente, com esperteza e garra, esses dois não foram passados para trás.

O ultimo episódio que tanto demorei pra conseguir ver é óbvio que seria sobre o show no Palace, sendo os primeiros músicos fora do circuito cult/modernista a pisar na grandiosa casa de show e lógico a criação do hino nacional “Evidências” que não é uma musica originalmente deles, mas que passou por grandes mudanças no ritmo e acordes para se tornar o símbolo que é hoje. Fun fact, enquanto assistíamos a musica, meu primo surgiu do quarto descendo as escadas, cantando em plenos pulmões.

Com apenas 8 episódios, a série é um ótimo passatempo para maratonar, seja você fã de sertanejo ou não, é impossível negar a importância que esses dois ainda tem para a cultura brasileira e para a história da música como um todo.

Disponível no Globoplay.

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